As chicotadas podiam ser ouvidas de longe. Uma multidão estava em volta
do homem amarrado no tronco que gritava sentindo sua pele ser perfurada com a
ponta de ferro do chicote e as pauladas que os escravos continuavam a dar em
suas costas.
A mulher gritava sendo segurada pelos capangas barulhentos e animados
com a situação. Vários outros estavam longe batendo tambores e dançando ao som
dos gritos do homem.
Quando o outro homem ergueu o chicote para acerta-lo novamente, um tiro
ecoou no lugar fazendo com que todos se calassem e o vissem cair.
Os escravos se impressionaram ao ver a figura que o acertou segurando
uma espingarda.
TRÊS HORAS ANTES.
Helena pensou em dizer algo para quebrar o silêncio, mas a situação
estava mais tensa do que ela pensava e ao relembrar de ter confrontado o barão
ela se afastou e calou-se.
Madalena estava com lágrimas nos olhos e não conteve suas palavras.
- Fabricio... - disse encarando o filho que tentava conter a raiva em
sua expressão - Você não é filho de Miguel.
- Você me traiu sua bitch! - exclamou barão Miguel nervoso com os olhos
arregalados.
Jana estava com um copo na parede ouvindo a conversa e comendo o resto
da pipoca que estava dentro da panela.
- Você também me traiu! - exclamou ela tentando conter as lágrimas.
- Eu sou o barão! - voltou a gritar com autoridade fazendo com que todos
na sala se assustassem - Eu sou homem! Eu posso e você não!
Madalena estava segurando os braços em volta do corpo.
Valquiria se aproximou de Fabricio tocando na mão dele, o que deveria
deixa-lo calmo, mas o deixou mais nervoso do que estava.
- Eu não posso acreditar nisso! - disse atraindo a atenção deles - Vocês
dois? Eu... Eu não sei nem o que dizer.
A cabeça de Barão estava confusa e embaralhada processando a situação.
- Vincente! - exclamou e o capanga chegou depressa - Leve Fabrício e
Valquíria daqui imediatamente.
Os dois ficaram sem reação quando os outros capangas os agarrou pelo
braço e os arrastou para fora da sala.
- Me soltem! - gritava Fabrício.
Os capangas os levava para fora quando Fabrício acertou o que estava
atrás dele arremessando a cabeça para trás. O capanga caiu gemendo e então
Fabrício correu e acertou um soco no rosto do que segurava sua amada.
- Cuidado! - Valquíria apontou para trás quando o capanga se levantou.
Mas ele caiu quando Jana acertou a panela em sua cabeça.
- Corram - disse assustada - Corram daqui agora!
Os dois deram as mãos e correram em direção a cachoeira.
- Quem é o pai de Fabrício? - perguntou Barão com o rosto iluminado pelo
fogo na lareira.
Madalena balançava a cabeça para os lados se afastando cada vez mais
enquanto ele se aproximava.
- Quem?
Ela balançou a cabeça novamente sentindo as lágrimas quentes rolarem em
seu rosto.
- Quem?! - agora ele avançou agarrando os braços dela com as mãos - Quem
sua prostituta de merda?!
Vincent estava tenso e Helena calada.
- Leve-a daqui! - disse Barão virando-se e apontando para Helena que
tentou correr, mas Vincent foi mais rápido - Lidarei com você mais tarde - e a
bateu no rosto.
- Não por favor... - chorou enquanto Vincent a arrastava
Ele voltou olhando para Madalena.
- Eu estou sendo calmo - sussurrou deixando-a mais assustada - Mas não
serei daqui alguns minutos.
- Miguel - disse finalmente - Por favor, deixe isso para lá.
Ele apertou o braço dela com mais força.
- Quem é o pai de Fabrício?
Helena foi jogada em um dos quartos e tentou sair, mas o capanga a
trancou.
- Me deixe sair! - gritava batendo na porta - Me deixe sair!
- Não podemos ficar aqui - murmurou Valquíria ouvindo o barulho da
cachoeira calma e encarando o rosto aflito de Fabrício - Ele vai mata-la. Ele
vai matar minha mãe.
- Não deixarei isso acontecer - disse tocando o rosto dela.
Ela colocou a mão sob a dele e sorriu.
- Como se sente? - perguntou ele ignorando a fúria dentro de si.
- Impressionada - respondeu rápida.
- Venham! - ouviu Fabrício e Valquíria a voz ecoar vindo de longe -
Escravos! - vociferou - Se aproximem todos!
Fabrício e Valquíria se entre olharam e correram em direção a voz.
Barão Miguel se aproximou de um troncos com Vincent curioso ao seu lado
enquanto os escravos os cercavam temendo o que seria. Madalena estava sendo
segurava por dois capangas enquanto chorava em silêncio.
- O homem que os machucou! - gritou - Que os humilhou e que os
chicoteava...
Ele olhou para Vincent que estava paralisado, ele sabia que Barão havia
descobrido que ele era pai de Fabrício e quando olhou para Madalena a expressão
dela a entregou.
- Não é o que senhor pensa... - tentou dizer, mas foi interrompido.
- Você terá a punição que merece - sussurrou aproximando o rosto ao dele
que escorria suor - Eu confiei em você, mas você quebrou minha confiança.
Escravos! Dêem a ele o que ele merece.
Os escravos correram em direção a ele o batendo com bambus e pedaços de
madeira. Ele caiu gritando e o Barão o amarrou ao tronco.
- Não! - exclamou Madalena, mas sua voz era apenas um sussurro no meio
da gritaria.
Uma multidão estava em volta do homem amarrado no tronco que gritava
sentindo sua pele ser perfurada com a ponta de ferro do chicote que Barão lhe
dava com mais força.
Os escravos que não estavam participando da confusão pulavam animados
enquanto outros batiam em tambores.
Quando o Barão ergueu o chicote para acerta-lo novamente, um tiro ecoou
no lugar fazendo com que todos se calassem e o vissem cair.
Os escravos se impressionaram ao ver Helena com lágrimas nos olhos e
segurando a espingarda.
Fabrício e Valquíria havia chegado tarde demais. Os capangas se entre
olharam vendo que os escravos os encaravam e então cairam fora, Madalena correu
em direção ao Vincent para ajuda-lo.
- Deixe eu te soltar... - disse desamarrando-o.
- Saia daqui vadia! - exclamou acertando-a no rosto e cambaleando para
longe, mas um dos escravos o derrubou de novo.
Jana se aproximou de Helena segurando uma panela de pipoca e a ofereceu,
ela riu pegando um pouco e a abraçando.
- Eu - Valquíria deu um passo - Como herdeira legitima do Barão, liberto
todos os escravos da fazenda Brilho do Sol! Estamos livres.