quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Último Capítulo


 As chicotadas podiam ser ouvidas de longe. Uma multidão estava em volta do homem amarrado no tronco que gritava sentindo sua pele ser perfurada com a ponta de ferro do chicote e as pauladas que os escravos continuavam a dar em suas costas.
A mulher gritava sendo segurada pelos capangas barulhentos e animados com a situação. Vários outros estavam longe batendo tambores e dançando ao som dos gritos do homem.
Quando o outro homem ergueu o chicote para acerta-lo novamente, um tiro ecoou no lugar fazendo com que todos se calassem e o vissem cair.
Os escravos se impressionaram ao ver a figura que o acertou segurando uma espingarda.

TRÊS HORAS ANTES.

Helena pensou em dizer algo para quebrar o silêncio, mas a situação estava mais tensa do que ela pensava e ao relembrar de ter confrontado o barão ela se afastou e calou-se.
Madalena estava com lágrimas nos olhos e não conteve suas palavras.
- Fabricio... - disse encarando o filho que tentava conter a raiva em sua expressão - Você não é filho de Miguel.
- Você me traiu sua bitch! - exclamou barão Miguel nervoso com os olhos arregalados.
Jana estava com um copo na parede ouvindo a conversa e comendo o resto da pipoca que estava dentro da panela.
- Você também me traiu! - exclamou ela tentando conter as lágrimas.
- Eu sou o barão! - voltou a gritar com autoridade fazendo com que todos na sala se assustassem - Eu sou homem! Eu posso e você não!
Madalena estava segurando os braços em volta do corpo.
Valquiria se aproximou de Fabricio tocando na mão dele, o que deveria deixa-lo calmo, mas o deixou mais nervoso do que estava.
- Eu não posso acreditar nisso! - disse atraindo a atenção deles - Vocês dois? Eu... Eu não sei nem o que dizer.
A cabeça de Barão estava confusa e embaralhada processando a situação.
- Vincente! - exclamou e o capanga chegou depressa - Leve Fabrício e Valquíria daqui imediatamente.
Os dois ficaram sem reação quando os outros capangas os agarrou pelo braço e os arrastou para fora da sala.
- Me soltem! - gritava Fabrício.
Os capangas os levava para fora quando Fabrício acertou o que estava atrás dele arremessando a cabeça para trás. O capanga caiu gemendo e então Fabrício correu e acertou um soco no rosto do que segurava sua amada.
- Cuidado! - Valquíria apontou para trás quando o capanga se levantou.
Mas ele caiu quando Jana acertou a panela em sua cabeça.
- Corram - disse assustada - Corram daqui agora!
Os dois deram as mãos e correram em direção a cachoeira.

- Quem é o pai de Fabrício? - perguntou Barão com o rosto iluminado pelo fogo na lareira.
Madalena balançava a cabeça para os lados se afastando cada vez mais enquanto ele se aproximava.
- Quem?
Ela balançou a cabeça novamente sentindo as lágrimas quentes rolarem em seu rosto.
- Quem?! - agora ele avançou agarrando os braços dela com as mãos - Quem sua prostituta de merda?!
Vincent estava tenso e Helena calada.
- Leve-a daqui! - disse Barão virando-se e apontando para Helena que tentou correr, mas Vincent foi mais rápido - Lidarei com você mais tarde - e a bateu no rosto.
- Não por favor... - chorou enquanto Vincent a arrastava
Ele voltou olhando para Madalena.
- Eu estou sendo calmo - sussurrou deixando-a mais assustada - Mas não serei daqui alguns minutos.
- Miguel - disse finalmente - Por favor, deixe isso para lá.
Ele apertou o braço dela com mais força.
- Quem é o pai de Fabrício?

Helena foi jogada em um dos quartos e tentou sair, mas o capanga a trancou.
- Me deixe sair! - gritava batendo na porta - Me deixe sair!

- Não podemos ficar aqui - murmurou Valquíria ouvindo o barulho da cachoeira calma e encarando o rosto aflito de Fabrício - Ele vai mata-la. Ele vai matar minha mãe.
- Não deixarei isso acontecer - disse tocando o rosto dela.
Ela colocou a mão sob a dele e sorriu.
- Como se sente? - perguntou ele ignorando a fúria dentro de si.
- Impressionada - respondeu rápida.
- Venham! - ouviu Fabrício e Valquíria a voz ecoar vindo de longe - Escravos! - vociferou - Se aproximem todos!
Fabrício e Valquíria se entre olharam e correram em direção a voz.

Barão Miguel se aproximou de um troncos com Vincent curioso ao seu lado enquanto os escravos os cercavam temendo o que seria. Madalena estava sendo segurava por dois capangas enquanto chorava em silêncio.
- O homem que os machucou! - gritou - Que os humilhou e que os chicoteava...
Ele olhou para Vincent que estava paralisado, ele sabia que Barão havia descobrido que ele era pai de Fabrício e quando olhou para Madalena a expressão dela a entregou.
- Não é o que senhor pensa... - tentou dizer, mas foi interrompido.
- Você terá a punição que merece - sussurrou aproximando o rosto ao dele que escorria suor - Eu confiei em você, mas você quebrou minha confiança. Escravos! Dêem a ele o que ele merece.
Os escravos correram em direção a ele o batendo com bambus e pedaços de madeira. Ele caiu gritando e o Barão o amarrou ao tronco.
- Não! - exclamou Madalena, mas sua voz era apenas um sussurro no meio da gritaria.
Uma multidão estava em volta do homem amarrado no tronco que gritava sentindo sua pele ser perfurada com a ponta de ferro do chicote que Barão lhe dava com mais força.
Os escravos que não estavam participando da confusão pulavam animados enquanto outros batiam em tambores.
Quando o Barão ergueu o chicote para acerta-lo novamente, um tiro ecoou no lugar fazendo com que todos se calassem e o vissem cair.
Os escravos se impressionaram ao ver Helena com lágrimas nos olhos e segurando a espingarda.
Fabrício e Valquíria havia chegado tarde demais. Os capangas se entre olharam vendo que os escravos os encaravam e então cairam fora, Madalena correu em direção ao Vincent para ajuda-lo.
- Deixe eu te soltar... - disse desamarrando-o.
- Saia daqui vadia! - exclamou acertando-a no rosto e cambaleando para longe, mas um dos escravos o derrubou de novo.
Jana se aproximou de Helena segurando uma panela de pipoca e a ofereceu, ela riu pegando um pouco e a abraçando.

- Eu - Valquíria deu um passo - Como herdeira legitima do Barão, liberto todos os escravos da fazenda Brilho do Sol! Estamos livres.

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